Coluna Daniel Polcaro
Multa à Gardênia dificilmente vai mudar o descaso
Sem dúvida, bem melhor que nada, mas a multa de R$ 301 mil aplicada pelo Procon de Minas Gerais, órgão do Ministério Público, é uma anedota para o consumidor que utiliza os serviços da Gardênia, única linha comercial de dezenas de cidades do Sul de Minas com Belo Horizonte. Cabe recurso. Há pelo menos cinco anos, os relatos de ônibus quebrando se tonaram frequentes. O anúncio de ‘irregularidade’, leia-se descumprindo o quadro de horários e ‘veículos em mau estado de conservação, sem segurança ou higiene’ apontado publicamente vem tarde demais. É visível o descaso de uma empresa, de fato, em recuperação judicial, mas que transporta vidas. Se um ônibus não está em bom estado de conservação, logo não deveria transportar pessoas diariamente em estradas.
É lógico, plausível, racional. Será que todo esse risco pode ser coibido com desfalque no caixa que representa o valor de um veículo usado da empresa? Essa penalidade alardeada nos últimos dias não representa o tamanho exato do problema. Em uma decisão séria a empresa já teria, no mínimo, ter algumas linhas suspensas – só recuperadas depois de voltar a operar com frota adequada, com manutenção em dia. É inadmissível sequer um acidente, um ferido. É bom frisar: estamos falando de vidas, que muitas vezes vão até a capital para um atendimento médico de urgência e fica pelo caminho por horas. Ao longo dos últimos anos, certamente quem está lendo conhece – ou mesmo passou – por um problema relacionado à empresa.
O detalhamento é assustador: ‘para-brisa trincado, cinto de segurança estragado, banheiro sem água e pneus inadequados’. Tudo baseado em autos de infração do Departamento de Edificações e Estradas de Minas Gerais (DEER-MG) com ‘índice significativo de reprovação dos veículos da empresa em vistorias realizadas’ em 2020 e 2021. Tudo isso acontecendo, por anos, não vai se resolver com dinheiro. Sem medidas mais duras, autoridades também estão assumindo o risco de cada viagem e cada passageiro.