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Cultura

Em novo livro, piumhiense resgata papel de Hélio Lobo

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Mais um livro na carreira do piumhiense Gabriel Terra Pereira, 37 anos, doutor em História e Cultura Política, membro titular do segmento docente do Instituto Federal de São Paulo, em Catanduva: “História e diplomacia na trajetória de Hélio Lobo (1908-1939)” pela Editora Appris. A escolha pelo diplomata carioca foi “em decorrência do silenciamento que ele sofreu na historiografia sobre a política externa brasileira ao longo do tempo. Ao passo que determinados indivíduos e suas trajetórias foram e são bastante estudados e vinculados à política externa brasileira, Hélio Lobo parecia sofrer de uma espécie de ostracismo”. Textos que conseguem traduzir, de fato, “os vinte anos de crise entre o final da Primeira e o início da Segunda Guerras mundiais, além de justificar o poder das oligarquias brasileiras hegemônicas no campo político daquele recorte histórico”, diz. Confira a seguir entrevista com Terra Pereira.

Trajetória

Minha área de formação/graduação é em história. Possuo o bacharelado e a licenciatura pela Unesp, Câmpus de Franca. Na mesma instituição realizei meus estudos de mestrado e de doutorado na área de História e Cultura Política. Sou autor de textos em revistas científicas e em capítulos de livros, além de ter publicado “A diplomacia da americanização de Salvador de Mendonça (1889-1898)” pela Editora Cultura Acadêmica e agora “História e diplomacia na trajetória de Hélio Lobo (1908-1939)” pela Editora Appris em 2022. Minhas publicações estão no universo da história da política externa brasileira, com ênfase na Primeira República brasileira (1889-1930). Nos últimos anos, por ocasião do meu ingresso no Instituto Federal de São Paulo, passei a atuar na Extensão, que tem como pressupostos o diálogo com a comunidade externa e o protagonismo dos estudantes através de projetos diversos. No meu caso os projetos estão na área dos Direitos Humanos e da Política Internacional, envolvendo a simulação do trabalho realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Destaco ainda que a relação com a Extensão me permitiu chegar à coordenação do setor e representar o segmento docente no Conselho de Extensão da Instituição a nível estadual. Atualmente desenvolvo o projeto de Extensão “IFMUN”, que articula os temas já mencionados (Direitos Humanos e Política Internacional), o projeto de pesquisa “A cultura da produção e do consumo do ópio: aspectos históricos, políticos e químicos (1920-1953)”, que articula o estudo do ópio e sua proibição no início do século XX e, por fim, ocupo como membro titular do segmento docente o Conselho de Campus (Concam) da instituição em que trabalho. 

Novo livro

Escolhi Hélio Lobo (1883-1960) em decorrência do silenciamento que ele sofreu na historiografia sobre a política externa brasileira ao longo do tempo. Ao passo que determinados indivíduos e suas trajetórias foram e são bastante estudados e vinculados à política externa brasileira, Hélio Lobo parecia sofrer de uma espécie de ostracismo. Esse foi o primeiro passo. Em seguida, fui descobrindo aos poucos um universo de livros e textos escritos por ele ao longo de uma rica trajetória em espaços de sociabilidade como o Itamaraty, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Academia Brasileira de Letras. Nestes espaços, Lobo cumpriu de maneira articulada algo que era comum a outros intelectuais: a articulação entre o trabalho diplomático e o ofício de historiador. Suas obras e textos foram escritos de modo a conferir sentido ao momento histórico em que ele vivia: os vinte anos de crise entre o final da Primeira e o início da Segunda Guerras mundiais, além de justificar a poder das oligarquias brasileiras hegemônicas no campo político daquele recorte histórico. Todo esse panorama vasto me instigou a conhecer a trajetória de Hélio Lobo, (e nesse sentido convido ao público conhecer e ler o livro) que por fim foi “invisibilizado” por entrar em atrito com ninguém mais do que Getúlio Vargas na década de 1930. Destaco, entre as obras publicadas por Hélio Lobo, duas: a primeira é “Cousas diplomáticas”, publicado em 1918. A obra traça, em diversos artigos, da relação do Brasil com os Estados Unidos e revela os primórdios de um processo de americanização da política externa brasileira em oposição à europeização típica do momento anterior. A segunda é “O Pan-americanismo e o Brasil”, publicada em 1939. Ainda que noutro momento histórico, Lobo percorre as chamadas conferências americanas, reuniões internacionais que foram realizadas para conferir entendimentos políticos e econômicos entre os estados americanos ao longo do século XIX e XX e revela o posicionamento do Brasil. Em tempos de bicentenário da independência do país, é uma leitura que, guardadas as diferenças de época, dialoga com temas e angústias do tempo presente. 

Piumhi

Acredito que não fazemos nada sozinhos. A produção do livro é um bom exemplo. A pesquisa realizada para que ele viesse à luz, também. Tive inúmeros professores fundamentais. Muitos e muitas se tornaram colegas em outro momento da minha vida, já formado e com a carreira se iniciando em Piumhi. Mas é claro, existem pessoas que precisam ser lembradas pela importância específica que tiveram ao longo da minha vida. Gostaria de destacar dois: a minha mãe, Maria Inês, que por ser educadora, pôde me presentear constantemente com livros de História e me ensinar o valor da educação pública. Não tenho dúvidas de que foi ali que meu interesse pela área surgiu, ainda que de maneira pouco elaborada. E por fim o meu pai, Jademir, que proveu de todas as maneiras possíveis todos os detalhes que permitiram que eu chegasse até aqui. Aproveito para citar uma passagem. Foi na companhia dele que, no começo da minha carreira e depois de dar a manhã inteira de aulas em Piumhi, viajamos para Franca onde eu realizava minhas pesquisas para o doutorado, além de acompanhar aulas e seminários diversos até a noite, quando voltávamos para Piumhi para trabalhar na Faculdade. Sem ele e a minha mãe, nada disso seria possível.

Jornalista e editor dos sites Da Redação, Front Pages News e Cura Plena. Escritor do 'Museu da Notícia' e 'Quer um conselho?'.

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