Economia
‘Estatais do Brasil só criaram ineficiência, privilégio e corrupção’, diz Ricardo Lacerda
À frente do fechamento de importantes negócios em 2019 – como a venda da TAG, da Petrobrás, à francesa Engie e da fatia do Grupo Pão de Açúcar na Via Varejo ao empresário Michael Klein e a outros sócios -, o banqueiro Ricardo Lacerda, da BR Partners, vê nas privatizações o caminho para a retomada da economia. Ele estima a injeção de capital com a venda de estatais de R$ 150 bilhões e R$ 200 bilhões até o fim do governo Bolsonaro.
Para Lacerda, trata-se não apenas de uma oportunidade de injetar dinheiro na economia, mas também uma chance de mudar o ambiente de negócios no Brasil. A privatização, em sua opinião, vem para trazer mais transparência ao País. “Empresa estatal brasileira só serviu até hoje para criar ineficiência, privilégio e corrupção.”
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
A turbulência política atrapalha o crescimento da economia?
Temos de separar a dinâmica política da dinâmica de governo. A dinâmica política está volátil e confusa. O presidente optou por um discurso mais voltado aos “eleitores raiz”. E ele faz isso de uma maneira muito direta e crua, via rede social. Provavelmente, ele busca garantir um contingente mínimo de eleitores para a próxima eleição, mantendo os fiéis à dinâmica de governo. Mas vejo de maneira positiva que as coisas no governo estão funcionando muito bem, como a infraestrutura, a Economia e até o Itamaraty, que assumiu uma postura mais pragmática. Mas a economia não tem respondido como se esperava.
Pode ser que os investidores estejam esperando que a questão política fique mais clara antes de voltar a investir no Brasil?
A demora na retomada econômica reflete fatores estruturais e conjunturais. Os estruturais se referem à Constituição de 1988, que criou uma série de privilégios. Já do lado conjuntural, há a volatilidade do câmbio, que prejudica o investimento. A retomada tem sido lenta e gradual. Minha visão é que ela vai se acelerar entre o fim deste ano e o início de 2020. A equipe econômica tem uma visão muito clara de reduzir o tamanho do Estado e trabalha para isso. O tamanho do Estado é a grande desgraça, o grande câncer, que afeta o Brasil. Nesse quesito específico, (o governo) está acima das minhas expectativas.
Mas as falas do presidente não são um retrocesso institucional?
Não. O Congresso está funcionando perfeitamente, o Judiciário está funcionando perfeitamente…
Mas e a polêmica envolvendo Amazônia não deixa o investidor com o pé atrás?
Desde que o Brasil perdeu o grau de investimento, houve saída consistente de recursos. O mundo hoje caminha para juros negativos ou muito baixos. No Brasil, os juros altos sempre foram uma forma de atrair dinheiro. Talvez o investidor demore um pouco a entender isso, mas estamos fazendo progresso em mudanças estruturais, em desburocratização. O dinheiro (da venda das estatais) pode trazer um vento de cauda muito favorável para o Brasil, puxando o resto da economia.
Há interesse pelas estatais brasileiras no setor privado?
Há grande interesse. Já houve outras equipes econômicas tão capazes quanto a atual, mas hoje vemos um desejo real de implementar a redução do Estado. Estamos vendo um trabalho de atração de capital, sem pensar se as propostas ferem grupos de interesse. O ministro da Economia, Paulo Guedes, deixa muito claro que não adianta gente da Fiesp chorar em Brasília para ganhar privilégios. Isso já era.
O programa de privatizações deve dar o empurrão para o crescimento econômico?
Sim. Durante muito tempo, o grande ponto de atração de capital externo foram os juros altos. Entre os investidores locais, a queda dos juros trouxe o efeito benéfico de transferir dinheiro para a Bolsa. O governo está fazendo muito para atrair capital estrangeiro, que ainda não voltou. Entende que não adianta ter uma política de transformar o Brasil em potência industrial, que isso é coisa do século passado. A redução do Estado é a chance de o Brasil atrair o investidor estrangeiro.
O que o sr. acha da velocidade de aprovação das reformas?
A reforma da Previdência evitou que o País quebrasse. As outras reformas, como a tributária e a administrativa, vão eliminar limitações estruturais para o crescimento.
O risco externo pode frear o crescimento?
Acredito que não. Há uma desaceleração global, mas estamos muito menos dependentes de capital estrangeiro do que em outros momentos. Se conseguirmos reduzir volatilidade do câmbio, o dinheiro externo volta.
Quanto o pacote de privatizações pode trazer em recursos?
Podemos levantar de R$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões até o fim do governo de Jair Bolsonaro. Tenho visto foco na melhora de resultados das estatais, algo que nunca vi antes. Hoje, o caminho do Brasil é a redução do tamanho do Estado e o fortalecimento do setor privado. Empresa estatal brasileira só serviu até hoje para criar ineficiência, privilégio e corrupção.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.