A Oi ganhou novos ares esta semana com a posse do diretor operacional, Rodrigo Abreu, ex-presidente da TIM e da Cisco. Abreu ingressou no conselho de administração da operadora no ano passado e assumiu o comitê de investimentos. Redesenhou o plano estratégico da tele e selou a meta de investimentos de R$ 7 bilhões ao ano até 2022.
Em seu novo posto, terá pela frente o desafio de endereçar o atraso em tecnologia e ajudar a equilibrar o caixa da empresa em recuperação judicial. Em meio a isso, ainda pode se deparar com uma proposta de compra por concorrentes como Telefônica e TIM. “Isso (manifestação de interesse de outras operadoras) é um reconhecimento de que a Oi tem potencial imenso”, disse Abreu ao Estadão/Broadcast.
Abreu disse que a Oi não precisa ser vendida e que não houve ordem do conselho para que isso ocorra, ainda que admita que eventuais propostas terão de ser consideradas.
Entre analistas e investidores, Abreu já é visto como o presidente de fato da Oi, cargo que deve assumir nos próximos meses, segundo fontes. Para evitar atropelos nas atribuições, ele concedeu a entrevista ao lado do atual presidente, Eurico Teles, responsável por conduzir a operadora na assembleia de credores de dezembro de 2017, quando foi aprovado o plano de recuperação judicial e a equalização de dívidas de R$ 65 bilhões.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Qual a visão sobre o momento atual da Oi?
Abreu: A Oi passou por muitos momentos em que não teve equilíbrio. Mas hoje há uma combinação de quatro elementos que permitem olhar para a empresa, que tem enorme potencial. Durante algum tempo, a estrutura financeira foi um dos elementos que apresentaram problemas, o que levou à recuperação judicial, mas a falta de sustentabilidade financeira não existe mais. Um segundo elemento questionado era a governança. Depois da construção do novo conselho, estamos em situação de absoluta harmonia. O terceiro elemento era o desequilíbrio da regulamentação. Tivemos boas notícias, começando pelo aumento dos limites de espectro que podem ser detidos por cada operadora, o que abre espaço para um mercado mais dinâmico. Isso tudo (as novas regulamentações do setor) permitirá novos investimentos. O último elemento era a operação, que melhorou e ajudou a manter a companhia viável.
Como vocês pretendem equilibrar o caixa e investir?
Abreu: No plano estratégico já tinha a previsão de que, durante algum tempo, os investimentos seriam maiores do que os resultados. A situação de caixa não é novidade. Leva algum tempo para que os investimentos gerem resultados. Mas o plano conta com várias maneiras para equilibrar o caixa, começando pela venda de ativos.
Até quando vai o fôlego do caixa da Oi sem a venda de ativos?
Abreu: Não há o que se falar sobre uma companhia sem a venda de ativos. Faz parte do plano. Há ativos não essenciais já listados no plano para venda. Um deles é a Unitel (operadora angolana em que a Oi tem 25% das ações). Ela vale cerca de US$ 1 bilhão. Há ainda torres, data centers, empresas de fibra, ativos imobiliários… Com a aprovação do novo marco regulatório, há chance maior de venda de ativos imobiliários.
Em que pé está a negociação para a venda da Unitel?
Abreu: Mantemos a confiança de cumprimento do processo de venda até o fim desse ano.
E com as vendas de imóveis, quanto podem arrecadar?
Eurico Teles: São quase R$ 1 bilhão em imóveis. Talvez a Oi tenha a maior carteira imobiliária do País, dada a capilaridade. Vendemos há pouco um prédio na Rua General Polidoro, em Botafogo (zona sul do Rio), por R$ 120 milhões. A primeira proposta que chegou foi de R$ 90 milhões. Não estamos desesperados por caixa.
Quais as outras opções em análise para financiar a Oi?
Teles: O próprio plano prevê várias formas de capitalização (emissão de ações, contratação de dívida com ou sem garantia e financiamento para a produção). Algumas são mais rápidas, outras demoram mais para serem estruturadas. A recomendação do conselho é que se olhem todas as opções. Estamos trabalhando nesse processo. Pode ser concluído ainda neste ano.
Qual o grande ativo e por que há interesse de outras operadoras na Oi, como o manifestado nos bastidores por Telefônica e TIM, entre outras?
Teles: A Oi tem uma infraestrutura de fibra fundamental para qualquer operação de telecomunicações no País. Me arrisco a dizer que não existe futuro no 5G nem em banda larga de alta velocidade sem a Oi. Seja para a nossa própria atuação, seja para prover e sustentar a atuação das outras operadoras. A Oi tem vocação natural para infraestrutura, é a única que chega a mais de 5 mil municípios e tem quase 2.300 municípios com fibra.
O conselho quer vender a Oi?
Teles: O conselho não manifestou esse desejo para a gente (direção).
Abreu: Para começar, isso (manifestação de interesse de outras operadoras) é um reconhecimento de que a Oi tem potencial imenso, seja no todo ou em vários componentes. O plano abriu um caminho sustentável, com opções para se gerar valor. Nosso caminho pode ser definido por um plano que não depende de ninguém. Não existe desejo do conselho de vender a Oi, mas o dever fiduciário de olhar qual seria a melhor situação da companhia.
A Oi vai participar do leilão de 5G previsto para 2020?
Abreu: Faz parte do plano participar dos leilões.
É cedo para falar em fim da recuperação judicial?
Teles: Não há data legal. A saída vai ser a data da sustentabilidade. A missão é deixar a companhia sustentável.